Apontamentos sobre a Casa Caramela

Os Caramelos de Ir e Vir, no inicio vinham apenas para trabalhar, por conta dos grandes proprietários das herdades da região, fazendo a limpeza dos matos e pinhais de terras incultas, tornando-as férteis e realizando as culturas de sequeiro, após as colheitas regressavam as suas terras de origem, os primeiros a chegar viveram inicialmente nos “bardos”, cabanas feitas com rama de pinheiro usualmente utilizadas pelos resineiros e “rameiros” que faziam o corte de rama nos pinhais, ou em cabanas feitas de canas e palha de centeio e trigo com a cobertura também em palha, ao longo do tempo fixaram em terras foreiras, cedidas pelos proprietários, construíram as primeiras casas em adobo de terra e barro com cobertura em palha, posteriormente cobertura em telha, casas com arquitetura diferente das existentes na região, por isso lhes chamaram “Casas Caramelas”

A Casa Caramela, era bastante baixa e pequena, feita com adobo de barro amassado no local, rebocada, caiada de branco,  normalmente era constituída, por uma cozinha, uma sala, e dois pequenos quartos de dormir, em algumas as Casas Caramelas, se construía nas paredes de trás e empenas, “gigantes”, o gigante é uma espécie de pilar exterior, também em adobos de barro, de grandes dimensões, com alguma inclinação de metade para cima, para proteger e segurar o edifício, a  construção da Casa Caramela era demorada, sendo necessário primeiro fabricar a quantidade necessária de adobos, feito no próprio local.

A Casa era repartida em três parte, a cozinha e sala com dimensões semelhantes, sendo por vezes a sala maior que a cozinha, e por uma divisão muito pequena para os quartos, que por sua vez era ainda dividida por dois quartos, o maior para o casal onde apenas cabia a cama de casal (em ferro) e uma pequena mesa de cabeceira, o quarto mais pequeno era destinado aos filhos e neste se fixava uma corda onde era pendurada as roupas domingueiras tapadas com um lençol, na sala era colocada uma mesa, um armário de loiça, e mais algumas camas quando existia mais do que um filho, na cozinha a mesa para comer diariamente, a cantareira com os pratos, e o pote da água no poial, a farinha, a salgadeira e outros mantimentos também aí se guardavam quando não existiam outras alternativas.

O chão da casa era de barro amassado, que ao longo do tempo, se desfazia com o uso e ao varrer criava grandes buracos, o teto dos quartos e sala, na sua maioria era revestido a madeira, sendo inicialmente revestidos por sacos ou panos cozidos e mesmo esteira de tabúa, existente em grandes quantidades nos charcos da região. Em alguns casos de pessoas de maior riqueza, o chão da sala e quartos podia ser revestido a madeira, situação muito rara.

O quarto do casal, tinha uma janela muito pequena, o quarto dos filhos ou não tinha janela ou era ainda mais pequena, a porta da sala tinha um postigo e a porta da cozinha era uma porta simples, em alguns casos, mas muito raro, a cozinha podia ter também uma porta para as traseiras.

Era comum na Casa Caramela, junto à porta da frente na sala, ser plantadas roseiras ou mesmo videiras, na traseira da casa era plantado arruda, alecrim, e outras plantas para medicina caseira, também era costume plantar alguns lírios.

Junto ao poço, quando existia, era plantada alguns pé de cravina, hortelã, e a árvore de doce – lima para recolha de folhas para o chá.

Junto á casa era erguido os chiqueiros dos porcos, as capoeiras para as galinhas e as cabanas para os outros animais, especialmente para os essenciais á lavoura, na empena voltada ao sul era normal erguer um “coberto ou amparo”, o coberto ou amparo era feito pinheiros pequenos, colocados inclinados do solo ao cimo da empena, coberto com palha centeio e canas, servindo para arrumar a lenha para queimar no forno e cozinha, assim como feno e raspão para as camas dos animais protegendo ainda a parede das chuvas, perto da casa existiam os rolheiros de palha de milho, e as medas de feno e palha de centeio.

Quase todas as Casas Caramelas tinham o seu próprio forno para cozer o pão, umas com a boca voltada para interior da casa dentro da lareira, outras com o forno e boca exterior, algumas tinham também uma adega para produzir e armazenar o seu próprio vinho.

Também existia junto da Casa Caramela, a eira com chão de barro amassado, onde se fazia as desfolhadas, malhadas e as grandes festas caseiras.

Hoje poucas Casas Caramelas existem na região em condições de habitar, e as poucas existentes, sofreram obras que alteraram a sua arquitetura pelo menos no seu interior, existe ainda algumas casas que servem de armazéns e muitas em ruínas, sendo ainda possível ver as semelhanças entre elas.

Manuel Fernando Miguel, Outubro de 2003

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