Caracterização da Região

A Barra Cheia, está situada a 25 Km de Setúbal e a cerca de 30 Km de Lisboa. É uma vasta área rural pertencente às atuais Freguesias de Alhos Vedros no concelho da Moita, Freguesia de Quinta do Anjo no concelho de Palmela e Freguesia de Santo António da Charneca (antigamente integrada na Freguesia de Palhais) no concelho do Barreiro. Foi entretanto unida nos costumes e tradições.

A Barra Cheia da Freguesia de Alhos Vedros é aquela que mantém vivas as tradições e costumes do Povo Caramelo. A partir da década de 60, com a criação de postos de trabalho na Siderurgia Nacional e CUF, iniciou-se um movimento migratório de famílias oriundas do Alentejo, que rapidamente se misturou com a população local, dando também origem a novos costumes e famílias mistas, sendo criado um Bairro Alentejano na Barra Cheia da Quinta do Anjo e a pouco e pouco perdeu o seu nome de origem.

O Rancho assenta nos costumes, tradições, danças e cantares dos povos que povoaram e desenvolveram a Barra Cheia, denominados de “Caramelos de ir e vir” depois só por “Caramelos”, oriundos da Beira Litoral, especialmente dos concelhos de Mira e Cantanhede “Região Gandaresa”, que se radicaram nesta região assim como nas localidades limítrofes nos princípios do Século XIX.

Esta comunidade (quase todos aparentados) viveu em família, sem grandes alterações na sua própria cultura, costumes e tradições de origem, até à chegada das gentes Alentejanas. O primeiro casamento entre um descendente de Caramelos com uma filha de Alentejanos ocorreu na década de 70, tendo este casamento causado na altura enorme espanto e comentários, a partir daí tudo foi normal.

Os Caramelos, eram indivíduos que vieram a caminho do Alentejo à procura de trabalho, mas que acabaram por se fixar na região. Eram povos Cristãos, ligados à devoção de N. Srª. da Escudeira, N. Srª. da Atalaia, N. Srª. da Arrábida e a N. Srª. do Cabo Espichel, sendo a N. Srª. da Atalaia aquela que, maior devoção criou no coração deste povo pelas graças recebidas.

A maior riqueza dos Caramelos que lhes permitiu a fixação foi serem muito trabalhadores, honestos e cumpridores da sua palavra, conquistando assim a simpatia e apreço dos grandes proprietários, sendo os primeiros a ser contratados na praça de trabalho.

Esta situação permitiu a muitos obter terras foreiras para a sua fixação, muitos deles posteriormente pediam dinheiro emprestado para comprar as suas próprias terras, hipotecando as mesmas, e com o seu trabalho iam pagando a divida e respetivos juros.

A Barra Cheia é constituída por uma planície com algumas elevações sendo a maior a do Cabeço do Moinho. A planície é constituída por terrenos de regadio, vinhas (em extinção), oliveiras, árvores de fruto diversas e terras férteis para cereais.

No cabeço do Moinho existiu até princípios da segunda década do século XX o único moinho de vento na Freguesia de Alhos Vedros (na sede de freguesia existiam apenas moinhos de maré). Aqui se preparava a farinha para alimentar a população da região, avistando-se deste local toda a região até às encostas do Castelo de Palmela e serra da Arrábida.

As Músicas e Cantares que utilizamos eram cantadas e dançadas nas festas caseiras, como as matanças de porcos, os casamentos, as desfolhadas, e nos pontos de reunião quando o povo se deslocava para as romarias de N. Srª. da Atalaia e outras.

Partes das músicas foram recolhidas nas pessoas mais idosas da Barra Cheia e localidades da região. As restantes foram adotadas por um manuscrito publicado pelo Museu de Etnografia de Setúbal, que reúne uma vasta obra recolhida nas principais romarias da região, em épocas diferentes pelo falecido músico e romeiro Celestino Rosado Pinto; obra que sua filha Drª. Maria Adelaide Rosado Pinto, publicou em 1967 com o patrocínio do Museu de Etnografia de Setúbal.

Manuel Fernando Miguel
Barra Cheia, 26 de Setembro de 2018

Comments are closed.